Cerca de quatro meses depois da fase de implementação, a Plataforma Dikota E-6.0, uma iniciativa da Primeira-Dama, Ana Dias Lourenço, começa a partir de agora a consolidar os passos para a aproximação e a troca de experiência entre grupos geracionais: os mais velhos e os jovens.
Apresentado publicamente a 18 de Dezembro de 2020, a plataforma tem já as condições para dar início à execução paulatina de várias acções em torno da promoção de conhecimentos e de saberes de pessoas com mais de 60 anos, do ponto de vista pessoal e profissional, no seio da juventude, através do diálogo entre as gerações.
Nesse sentido, como assegurou Edson Barreto, director do Gabinete de Quadros do Presidente da República, está lançado o desafio, com a plataforma, para a promoção da solidariedade entre as gerações e de uma sociedade angolana mais inclusiva, quer do ponto de vista da justiça social, quer cultural.
Edson Barreto, um dos impulsionadores da Plataforma Dikota E-6.0 e membro da equipa técnica, avançou que esta ferramenta vai contribuir para que a sociedade angolana seja cada vez mais respeitadora das gerações mais velhas e faça um melhor aproveitamento de todo o capital de informação, conhecimento, sabedoria e da experiência que os "kotas” dispõem.
O coordenador da comissão instaladora da Plataforma Dikota, Manuel Victor, reforçou a ideia de que a ferramenta visa assegurar a valorização e participação activa dos mais velhos, garantindo um envelhecimento activo e a interacção inter-geracional, no sentido de se ter uma sociedade cada vez mais inclusiva.
Para valorizar e incluir de forma activa os "kotas” em diversas actividades, a Plataforma vai dispor de cinco domínios de actuação, entre os quais o conhecimento e consultoria, mentoria e educação profissional, aprendizagem inter-geracional, investigação científica e voluntarismo.
Formas de actuação
Quanto à forma de actuação da plataforma, o coordenador da comissão instaladora referiu que se resume em três projectos-bandeira fundamentais, nomeadamente o "Painel de séniores”, "Bumerangue” e o "Banco de horas”.
O "Painel de séniores”, segundo Manuel Victor, é uma base de dados, ou seja, um espaço em que qualquer cidadão angolano, com 60 anos ou mais, residente no país ou diáspora, pode disponibilizar o seu currículo, e, independentemente das habilitações académicas, e partilhar informações sobre a sua experiência técnico-profissional.
Em relação ao "banco de horas”, o coordenador explicou que se trata de uma ferramenta que permite contabilizar a prestação de serviço de cada um dos séniores, em função dos pedidos que forem feitos por pessoas colectivas, públicas ou privadas, para beneficiarem da experiência desses mais velhos.
"Há uns dias, fomos contactados por uma instituição que queria saber até que ponto a plataforma poderia colaborar com eles na passagem de experiência dos mais velhos aposentados, de uma determinada área, para a nova geração de funcionários acabados de entrar na referida organização”, exemplificou.
Manuel Victor assegurou que o "banco de horas” vai permitir a remuneração desses "kotas”, valorizando-os e ajudando-os a melhorar a qualidade de vida. Porém, as pessoas que, de forma voluntária, queiram se juntar ao projecto serão bem acolhidas.
Já o "bumerangue”, uma espécie de "faca de dois gumes”, disse tratar-se de um espaço em que as gerações mais novas vão trocar impressões, interrelacionar-se com os mais velhos em aspectos melhor dominados pelos jovens. "Por exemplo, o uso das novas tecnologias é um caso em que os ‘dikotas’ podem beber dos mais novos”, salientou o coordenador.
Por outra, neste mesmo espaço, os mais velhos podem recorrer, igualmente, a situações da sua juventude ou meninice para recordar com os mais novos. O recurso a brincadeiras e jogos que marcaram o passado dos "kotas” é uma fórmula que será utilizada para a transmissão de conhecimento.
Balcão do Dikota
Ainda no quadro das estratégias de actuação e penetração da plataforma em todo o território nacional, o coordenador da comissão instaladora anunciou que vai ser instalado o serviço "Balcão do Dikota” a nível das províncias, onde os mais velhos, de forma presencial ou digital, vão manter contacto com o projecto e conhecer toda a sua essência.
Manuel Victor disse que esse balcão vai permitir que o "dikota” encontre todas as orientações para que desenvolva essa interacção e se sinta útil socialmente, dando nova vida às suas experiências.
"O mais velho não pode ser visto como um inválido. Pelo contrário, deve ser tido como uma fonte de sabedoria, que, bem aproveitada, garante a unidade nacional, soberania e o exercício efectivo da cidadania”, referiu Manuel Victor.
Sobre a materialização dos objectivos da plataforma em zonas sem acesso à Internet, Ana Luísa Carvalho, membro da comissão instaladora, assegurou que há esforços no sentido de transformar o projecto inclusivo e acessível a todas as localidades e comunidades do país.
Para isso, a plataforma visa também evidenciar a vivência dos "kotas” de várias comunidades do país. "Queremos buscar o seu saber e o modo de estar, para que possamos transformar tudo isso num arquivo da memória colectiva dos angolanos”.
As tecnologias de informação moderna são o grande suporte da plataforma, mas para as comunidades mais longínquas ou nas povoações sem acesso à Internet, a oralidade vai ser a forma de interacção.
Ana Luísa Carvalho realçou que foi a pensar nessas limitações que se optou também pela troca de experiências de forma presencial. E o "Bumerangue” prevê essa categoria de interacção mais próxima, tão logo a situação da pandemia da COVID-19 esteja melhor controlada ou eliminada.
Essa questão fica acautelada com a instalação do "Banco do Dikota”, um espaço físico para ajudar pessoas sem literacia tecnológica ou que não tenham nas suas comunidades acesso às novas tecnologias.
"Estamos a trabalhar com parceiros para a identifacação dessas pessoas, para sabermos onde e como estão, o que sabem transmitir, em que língua e a forma como podem passar a sua experiência ou contar a sua vida, para que possamos registar esses momentos”, realçou Ana Luísa Carvalho, que faz parte de uma equipa de dez elementos, dos quais cinco "makotas”, ou seja, séniores, e cinco mais novos, que criaram as linhas orientadoras da plataforma.
Com isso, Ana Luísa Carvalho ilustrou que a plataforma não se resume ao portal: www.dikota.ao, que é uma das ferramentas a ser utilizada pelos grupos-alvo. "Este sítio da Internet já está disponível e os ‘kotas’ já lá podem ir visitar, para ter informações”.
Apoios e adesão
Sobre os financiamentos que permitirão o funcionamento efectivo da plataforma, Ana Luísa Carvalho, lembrou que a iniciativa é da Primeira-Dama de Angola, que não tendo funções executivas, desenvolve o seu trabalho na base da sensibilização e mobilização da sociedade para adesão a causas nobres, como esta.
Ana Luísa Carvalho disse que as actividades em torno da Plataforma Dikota E-6.0 vão contar com apoios de entidades públicas, privadas ou de parceiros institucionais.
Sem revelar o montante já investido na Plataforma Dikota E-6.0, avançou que "as portas estão abertas para patrocinadores que queiram se juntar à causa, no sentido ajudar a dar corpo às iniciativas em carteira”.
Após ao lançamento do projecto, Manuel Victor disse que houve muita gente interessada em apoiar. Com o funcionamento, acredita que o número vai aumentar consideravelmente, tendo em contas os contactos que recebem de quase todas as províncias e de alguns países como o Brasil. "Há também muitos jovens nessa enorme lista de interessados”, disse satisfeito.
Manuel Victor recordou que, mesmo na fase de implementação, a comissão instaladora conviveu com jovens do Cazenga, em Luanda, para explicar a essência da criação da Plataforma Dikota E-6.0, e estes mostraram-se receptivos ao projecto.
Recentemente, diferentes grupos de "kotas” e jovens da província do Zaire manifestaram interesse em partilhar experiências ganhas de seus antepassados e as lições que encontram em jogos tradicionais da região.
"No fundo, eles querem mostrar a importância dos jogos, provérbios, contos e brincadeiras, que para o jovem da cidade nada mais são do que isso mesmo. Enquanto para a juventude do interior, há naquilo tradição, significado que pode mudar a forma de estar e de ser das pessoas”, explicou.
Com essa plataforma sem tempo de execução determinado, o director do Gabinete de Quadros do Presidente da República explicou que o objectivo é levar acções para as comunidades e povos, tendo em conta os grupos etno-linguísticos, representados em todo o território nacional.
Por outro lado, pretende-se reforçar as acções das instituições públicas a favor das pessoas com mais de 60 anos.
Além de questões demográficas e de políticas públicas, Edson Barreto disse que tiveram em conta aspectos de carácter social, cultural, económico, entre outros, durante a implementação do projecto.
"A ideia é ir ao encontro das especificidades e diferenças culturais e antropológicas que existem no nosso país”.